sábado, 26 de julho de 2025

            

Mais do que os cinco sentidos: um ensaio sobre a mulher e o indomável do feminino

Há coisas na vida que os cinco sentidos não dão conta. Eles são, sim, portas poderosas: enxergam, tocam, provam, escutam, cheiram. Mas tudo isso, por mais aguçado que seja, só alcança a pele do mundo. O que é profundo, o que é essência, exige outro tipo de acesso. E é nesse ponto que se encontra o mistério das mulheres.

Edson Marques, em um texto seu, no trecho que inspira esta reflexão, diz: “Não me bastam os cinco sentidos para perceber-lhes toda a beleza”. E é verdade. Porque não se trata apenas de ver um rosto bonito ou ouvir uma voz suave. A mulher é um território de complexidades. É história, é memória, é sonho, é força e vulnerabilidade ao mesmo tempo. Nenhuma retina, por mais sensível, alcança tudo isso.

Um olhar superficial pode se deter nas curvas e nos perfumes; um olhar profundo tenta entrar na alma. E para isso, não basta enxergar: é preciso pressentir. Não basta ouvir: é preciso escutar o que não foi dito. Não basta tocar: é preciso perceber o arrepio do silêncio.

A mulher é, antes de tudo, um universo. E quem tenta reduzi-la ao que vê, perde-se. Ela carrega dentro de si gerações de histórias, medos e coragem. Cada gesto tem uma origem antiga, cada palavra carrega uma força que foi aprendida ao longo de séculos. Há dores guardadas que os sentidos não captam. Há sonhos que só aparecem quando alguém olha sem querer dominar.

E aqui está um ponto essencial: não se ama uma mulher tentando explicá-la. Amar uma mulher é aceitar o mistério. É acolher o fato de que há nela algo que ninguém jamais vai decifrar. Esse “algo” é a sua liberdade de ser - livre até para mudar de rota a qualquer momento. Por isso, um homem que realmente ama não tenta corrigir, moldar ou aprisionar. Ele dança junto. Ele entra no sonho dela como quem entra numa música e se deixa levar.

Quando Edson Marques escreve “não lhes tiro a liberdade, não quero mudá-las jamais”, ele toca naquilo que talvez seja o maior respeito: permitir que a mulher seja um ser vivo em constante reinvenção. Nenhum gesto é mais bonito do que este: olhar para uma mulher e dizer, em silêncio, “eu te vejo como és, e é justamente assim que te quero”.

E há outra coisa importante: a mulher é um ser de profundidades, mas também de superfície. É olhar, é pele, é sorriso. Não é um enigma inalcançável; é um enigma disponível, mas que só se abre a quem sabe chegar com delicadeza. Por isso, amar não é só contemplação: é participação. É escutar suas histórias, beijar-lhe a boca e o riso, como diz o texto, entrar no mundo dela como quem entra em um jardim que não é seu, mas onde é convidado a caminhar.

Os cinco sentidos nos levam até a porta desse jardim. Mas depois dela, só entram outros dois sentidos que não têm nome: o sentido do respeito, e o sentido do assombro. O respeito, porque sem ele tudo vira apropriação. O assombro, porque sem ele tudo vira costume, e costume mata a beleza.

Há homens que envelhecem sem nunca perceber isso. Passam pela vida colecionando conquistas, mas nunca entram de fato em ninguém. Ficam na pele. E, ao final, descobrem tarde demais que a pele envelhece rápido, mas a alma não.

E há outros - e Edson Marques se inclui nesse segundo grupo - que entendem que amar uma mulher é um ato de admiração contínua. Que cada olhar dela, mesmo depois de anos, é um lugar novo. Que a beleza está no movimento, no sonho que ela sonha acordada, no fogo e na suavidade que coexistem.

Por isso, talvez não baste um sexto sentido. Talvez sejam necessários sete, oito, dez. Talvez a vida inteira seja pouco para compreender uma única mulher. Mas não tem problema. O belo está em continuar tentando.

No fim, é isso: amar uma mulher é um exercício de humildade. Deixar que ela seja um espelho que nos mostra o que ainda não sabemos ver. e, por um instante, sentir que se entra num espaço sagrado, não para tomar posse, mas para agradecer.

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