Ancar Ivanhoe vê mercado de shoppings em ponto de inflexão
“É hora de os ‘shopeiros’ tirarem os projetos da gaveta”, diz copresidente da maior empresa privada do setor -- que, aos 50 anos, apresenta seu plano ESG
Pátio Paulista: Shopping na capital paulista é um dos 27 empreendimentos no portfólio da Ancar (Ancar Ivanhoe/Divulgação)
Maior empresa de capital privado de shoppings centers do país, a Ancar Ivanhoe acredita que o mercado está prestes a entrar num ponto de inflexão. Com a indústria recuperada após o baque da pandemia e de sustos pontuais com fechamentos de grandes varejistas no primeiro semestre deste ano, as taxas de vacância dos empreendimentos em grandes cidades voltaram a ficar baixas, abrindo caminho para um aguardado movimento de expansão.
“Hoje eu vejo um movimento de retomada. Se tudo continuar bem, e tomara que continue, eu diria que é hora de os ‘shopeiros’ tirarem seus projetos da gaveta”, afirma o copresidente da companhia, Marcelo Carvalho, da segunda geração da família fundadora.
O movimento deve passar longe da euforia que marcou os anos de 2012 a 2014, quando houve o último ciclo de crescimento do setor, com o lançamento de uma série de empreendimentos, que acabaram demorando para maturar em meio ao derretimento do PIB nos anos do governo Dilma. Quando a economia ensaiava uma retomada, o coronavírus esvaziou os pontos físicos.
Dona ou gestora de 27 shoppings em 14 cidades, que geram quase R$ 20 bilhões de vendas ao ano, a Ancar é conhecida pelo perfil discreto. De capital fechado, os executivos raramente dão entrevistas. Do portfólio total, 17 são shoppings próprios – incluindo o Shopping Interlagos, em São Paulo, e o Botafogo Praia Shopping, no Rio -- e 10 são empreendimentos em que atua como gestora, caso do carioca Downtown e do paulistano Pátio Paulista.
Carvalho não dá muitos detalhes sobre os números da empresa, mas diz que está “sempre atento às oportunidades de mercado”. Ao fim de 2022, último dado disponível, a taxa de ocupação dos empreendimentos da Ancar estava em 95%, 0,9 ponto percentual acima de 2019, ano pré-pandemia.
De acordo com o executivo, o balanço está “confortável” tanto para expansão orgânica quanto inorgânica. No ano passado, a empresa vendeu o shopping Maracanaú, em Fortaleza, e mais uma fatia em três empreendimentos (Pantanal Shopping, Porto Velho Shopping e Shopping Boulevard) para um fundo gerido pela Vinci Partners por R$ 660 milhões, na maior transação do setor de shoppings desde o início da pandemia. Agora, a mesma gestora fez uma oferta de R$ 280 milhões por fatias no Shopping Conjunto Nacional, em Brasília, o Natal Shopping e Via Sul, em Fortaleza, que está em fase de conclusão.
“Nesse momento de queda da taxa de juros, todos os fundos imobiliários voltaram a se posicionar para crescimento de portfólio”, diz. “E daqui a pouco a gente vai comprar alguns ativos, provavelmente.”
Em 2020, a Ancar chegou a negociar uma fusão parcial com a BR Malls, que depois acabou se fundindo com a Alliansce, criando a maior empresa do setor, a Allos, com 69 empreendimentos que geram faturamento de quase R$ 40 bilhões.
Num ano complicado para o varejo, com a debacle da Americanas e grandes varejistas como Marisa, Casas Bahia, Polishop fechando lojas, os shoppings sofreram um baque no primeiro semestre. Mas, segundo Carvalho, ele foi pontual, sem grande impacto sobre a taxa de vacância.
“Houve fechamento de uma ou outra loja, mas na medida do possível, sentamos com esses operadores e encontramos uma forma de equacionar as dificuldades”, diz.
Em alguns casos, esses fechamentos abriram espaço para áreas de lazer a gastronomia, uma tendência que tomou conta dos shoppings com força no pós-pandemia. Outra tendência pós-covid foi de criar mais espaços abertos, com áreas pets, quiosques e restaurantes voltados para a área externa.
“Tivemos um bom primeiro semestre, em linha com a indústria. E o segundo semestre, historicamente, costuma ser melhor.”
Plano ESG
Pioneira no setor, a Ancar começou sua trajetória na década de 1970, quando ingressou na indústria como uma das responsáveis pelo desenvolvimento do segundo shopping construído no Brasil: o Conjunto Nacional de Brasília. Em 2006, associou-se à canadense Ivanhoe Cambrige, empresa global de serviços imobiliários.
Com 50 anos completos no ano passado, a empresa estruturou uma área ESG, para concentrar as iniciativas ambientais, sociais e de governança e acaba de lançar um plano para avançar nesses pontos até 2030.
“Passamos a monitorar as iniciativas que a gente já faz e criamos indicadores e um comitê de ESG, numa agenda não só de gestão de risco como de criação de valor”, diz Carvalho. “Isso é um ponto muito bom de ter um sócio estrangeiro grande, que nos alimenta de informações para elevar a barra. Hoje a gente discute com a Ivanhoe usar recursos que eles têm para investimentos green no Brasil.”
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